Ó, Alma do Universo,
trago a ti palavras cheias de mim,
densas, carregadas de sono e cansaço,
trago-as, na esperança de que o teu silëncio as formate
e as torne límpidas, cristalinas e leves,
como a paina, a flor do dente de leão,
as nuvens de algodão,
translúcidas, como bolhas de sabão.
Trago, também, meu coração nas pontas dos dedos.
Para que tu os mova e eles aprendam
a escrever em teu nome e sob o teu olhar.
Estes olhos, tão meus e que vivem fechados, tos dou,
- a ver se se abrem à tua realidade.
Dou-te, outrossim, minha língua
para que a ensines a falar em amor,
e meu amor também te dou,
para que contigo ame a tudo que existe
como a um irmão, uma irmã, como à tua criação,
sem diferenciar coisas,
bichos, montanhas, pedras, animais, rios e gente, nuvens e estrelas.
Coloco diante de ti o corpóreo que penso ser,
para que me mostres onde tu estás
nessa chama invisível e incorpórea
que Eu Sou.
Também esta chama te entrego e, com ela,
as cinzas que restam de mim no chão.
Se algo sublime nelas puder ser percebido,
que seja a essência, o imã,
o laço que me liga a Ti
e à Tua criação.
Carmen Regina