sábado, 8 de março de 2014

FAÇO CHOVER




É olhar uma flor, um pássaro, uma abelha, 
uma pedra, 
um tapete de flores no chão, 
um bezerro mamando ... 

 É ver os porquinhos cor-de-rosa 
no caminhão da Sadia (?)... 
 galinhas engaioladas indo à morte na Perdigão ... 

 É contemplar a lavoura viçosa 
 fazendo de conta que é verde-esperança e nutrição, 
 fingindo ser saudável o dourado dos trigais 
 encharcados de veneno Monsanto (santo?)! 

 Eu faço chover 
 Chuva forte daquelas que não passam. 
 O mar morto transborda.
 Choro e chovo. 

 Tempestade é ver criança pedindo comida, 
esmolando ternura, 
 - a Terra vira um oceano. 
 Sou trovoada quando dou de cara com Aspartame na mesa, 
 - o melhor da Monsanto à mão! 

 Fico em estado de calamidade quando vejo 
nossos hermanos abandonados, 
sem casa, sem comida, sem escola, sem dignidade, 
tampouco cidadania... 

 Um poema me comove 
 quando me faz saltar a barreira do sentimentalismo vão. 
 Senão, não. 
 Prefiro ler o pasto, os pratos dos gatos, 
as andorinhas que os felinos cobiçam.

 Prefiro a poesia da carroça do lixo reciclável 
e seus nobres poetas puxadores. 

 *Carmen Regina Dias 
 da série Della Saura



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