domingo, 20 de outubro de 2024

DÓI EM MINHAS COSTAS O PAPELÃO QUE COBRE O IRMÃO




 

O papelão que cobre o irmão

é duro, é pesado,

feito cobertor e feito colchão.

O barulho dos carros passando

em cima do viaduto e nas ruas laterais,

nem é tanto,

o que mata é o gás carbônico invisível,

tempo inteiro no ar, madrugada a dentro,

presente em cada respiração.

Dói em minhas costas

o papelão que recobre o irmão.

 

Um ratinho aqui, outro ali, uma ratazana acolá,

Baratas, aranhas...

todos buscando um canto pra chamar de seu,

nem que seja só por essa noite gelada,

todos com fome!

O que não dariam por um pedaço de pão...

 

Pesa em minhas costas o papelão

que recobre o homem e é o seu colchão.

Sinto frio, sinto fome, sinto medo...

E o grito, preso na garganta:

“Caim, onde está o teu irmão?”

 

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