domingo, 4 de março de 2012

entrega

 













Ó, Alma do Universo,

trago a ti  palavras  cheias de mim, densas, carregadas de sono e cansaço,
trago-as, na esperança de que o teu silëncio as formate e as  torne límpidas, cristalinas e leves,
como a paina, a flor do dente de leão, as nuvens de algodão,
 translúcidas, como bolhas de sabão.
Trago, também, meu coração nas pontas dos dedos.  Para que tu os mova e eles  aprendam
a escrever em teu nome  e sob o teu olhar.
Estes olhos, tão meus  e que vivem fechados, tos dou, -  a ver se se abrem à tua realidade.
Dou-te, outrossim,  minha língua para que a ensines a falar em amor, e meu amor também
 te dou,  para que contigo ame a tudo que existe como a um irmão, uma irmã, como à tua criação,
sem diferenciar coisas, bichos, montanhas, pedras, animais, rios e gente, nuvens e estrelas.
Coloco diante de ti o  corpóreo  que penso ser, para que me mostres onde tu estás nessa
chama invisível e incorpórea que Eu Sou.
Também esta chama te entrego e, com ela,  as cinzas que restam de mim no chão.
Se algo sublime nelas puder ser percebido,  que seja a essência, o imã, o laço que me liga a Ti
e à Tua criação.


Carmen Regina