quinta-feira, 23 de julho de 2009

PRO FUNDO


-->
PRO FUNDO


Velho poço
Velho poeta
Profundeza abissal

Mergulho vertical

O poeta chora 
na descida
qual manivela
trazendo a água

Do fundo do poço

melhor momento
da escalada
do ser.

Assim nascem os bebês

Firmam os pés em algo sólido
lá dentro
e impulsionam-se em direção à luz

O poema se ilumina

Do mergulho 
profundo
renasce o poeta
no mundo.


Carmen Regina


A JHS Poeta do Re nas Ser


quarta-feira, 22 de julho de 2009

No colo da Mãe...


Nas asas da alma

Noite a dentro, minha alma adentra
dimensões desconhecidas,
à procura de ti.
Suas asas me levam ao teu encontro.
Encontraremos o caminho?
Temo. Tremo de ansiedade,
gemo de vontade de te encontrar.

(Era tão mais fácil seguir a costa,
mar a fora, voando sobre a orla,
seria fácil te achar).

Mas ela insiste: nem é por ali,
via da saudade, onde a lua engoliu o sol
e os humanos tornaram-se vulneráveis.

Está em outro lugar, lá,
onde os deuses aboliram a dor
por não precisarem dela.
É lá que das dores se refaz, no colo da Mãe,
em paz.

Pedi tanto para estar com ela...
Passei a noite a procurar.
Sem encontrar.

Até que o dia nasceu.
A bordo de suas asas atravesso esse dia
procurando em todas as dimensões
onde se escondeu
minha mãe, minha doce poesia.

Carmen Regina


terça-feira, 21 de julho de 2009

Flauta de Eros

A flauta do amor


Era dentro de si que ele estava.
O tempo todo ali,
flauta invisível, sutil melodia,
o tempo todo tocando dentro de si.

Era a canção predileta dos deuses,
todavia, não se a ouvia,
seus ouvidos voltavam-se para fora.
Lá, ele não estava, fora, ele se perdia.

Vagou por ermos inomináveis,
Dormiu no colo dos sentidos febris,
queria tudo, e tudo era nada...

Perdeu-se na estrada, e agora, retorna,
poesia na ponta da língua,
poeta na alma, como sempre o quis.


Carmen Regina

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A noite é um jardim de lírios...

foto by google


A noite é uma criança
acesa, sem sono, bem acordada;
pelo jeito vai virar a madrugada...

[por que os grilos gritam assim?]

Ela não dorme, vira, revira, chora,
eu, cãozinho sem dono, sou descolado,
vou procurar um lugar quentinho,

[bem do teu lado...]

Que belo jardim!
Aconchego de ninho.
Relva delicada, macia, perfumada...

[de onde vem esse aroma?...]

Marquei o lugar para mim.
Jardim tem dono?
Se tiver, venho pé por pé

[na calada da noite...]

Me arrasto pela grama, fecho os olhos,
e que o manto da noite desça
todo bordado de luas e estrelas,

[...e pode ser que você venha]

Tão bom sonhar,
olhar as estrelas, a galáxia,
os vagalumes, o luar...


Carmen Regina

Amor e Poesia


Amor e Poesia


O amor a possuiu.
E tudo que ela via, pensava e vivia
era o amor
que nela via, pensava e fazia.

Foi ao céu.
O amor a fascinou,
identificou-se,
dissolveu-se nele.

Já não é mais poesia quem vive,
é o amor quem vive
nela.

O amor é amado.


Carmen Regina
imagem by google

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ver...

Ver


Abro-me.
E sou milhões
de peitos abertos,
legiões de corações
palpitando.
Observo...
Milhões de olhos
se abrem
dentro e fora
de mim,
Beleza e Poesia
passeiam
de mãos dadas
com a alma.
As pupilas, jardineiras,
semeiam Amor
no espaço
entre os abraços.
Jamais vi Ternura assim.
O poeta está maravilhado.
O Poema germina
na pauta branca
do infinito.


carmen

domingo, 5 de julho de 2009

aranha armando a teia



—Um dos inconvenientes da solidão: ela tudo exagera,

ela nos entrega às borboletas azuis.

Vae soli!

Urge fortificar-se com as pessoas de coração,

com os homens do dever,

com os seres exemplares,

com as belas almas.


Johonn Scheffler, poeta místico, chamado Angelus Silesius. 1624 - 1677








Pobre anjo

Era um anjo,

Até começar a beber

na taça dos mortais.

Agora cultiva ervas daninhas,

e se espalha...

Agora destila sua própria sicuta.

Não sabe o mal que se faz.

Pobre anjo...

Não resistiu ao chão movediço

de suas próprias re criações.

A alma apagou a luz

e ele dormiu.

Ainda dorme, pobre anjo...

Enquanto dorme

nutre fantasias,

re cria ilusões.

Já não sabe estar sozinho.

Só, alimenta fantasmas.

O anjo agora é multidões.



carmen