terça-feira, 28 de abril de 2009

nossos amigos



Eis –me aqui a observar
a tela esplendorosa que o Artista pintou
para presentear-nos neste dia.
Sol, luz, calor, o jade esvoaçando no ar.
Que magnífico dia!

Atento para as dobras no xale dourado
que cai sobre os ombros do horizonte e,
em meio a ignomínias, o que vejo?
Poesia.

Mas, o que está acontecendo?
A terra treme, as almas parecem em transe.
E é dos animais que vem a súplica e o clamor:
- Nós, como os humanos, precisamos de amor.

Até quando, meu Deus, 
Ainda seremos alheios à sua dor,
Ignorantes, indiferentes, doentes, brutais
Matando e comendo os nossos amigos
animais?


*Carmen Regina 

*POR CONTA DO PAI*

imagem by Boom BoomBa site 
Devian Art

Ofereço-vos o manjar e o néctar dos deuses!
Comei e bebei à vontade...

Vede: vossas taças transbordam interrogações
quais espumas borbulhantes.

Notai: três morangos enfeitam os vossos pratos
quais Sirius no céu;  são as reticências...

Posso servir-vos doces respostas, se quiserdes,
todavia, ao final do banquete sentireis amargor em vossas bocas.

Não há respostas, nobres irmãos. Sossegai e segui,
Como os pássaros, os lírios do campo, o dourado dos trigais.

Comei e bebei até vos fartardes.
A ceia é por conta do Pai.


Carmen Dias*

segunda-feira, 27 de abril de 2009

morrer morrer morrer


Morrer,

morrer e morrer...
Sem paredes pra segurar.
Todavia, os passarinhos cantam,
os raios de sol dançam no ar,
pneus rolam no asfalto,
há um silêncio milenar
que só os domingos conhecem.
Lá adiante a nova semana se insinua,
mais batalhas, mais surpresas,
eventos que não se sabe ainda
porque o sol corre atrás do sol.
O deus Mu dança
frenéticamente,
qual derviche incansável .
Mas, e essa tarde, este sol
lindo descendo em chamas no horizonte,
milhares de garças nas árvores
do outro lado da estrada,
e por sobre as águas...




Penso em tuas palavras: - morrer com fé.


E quase vejo um grão minúsculo de mostarda
saltando por entre as cores do sol
que morre solenemente...
e caindo em minhas mãos.



carmen

mandala by Paulo Urban.

Eu confio...

foto by Manolis Spanakis site photo.net



De outras vidas não falo, porque não lembro.
Falo desta, que me escapa pelos vãos dos dedos,
pelos cantos dos olhos, pelas janelas da mente.

(falaria, na verdade, pois as palavras me fogem
quando penso no que fora, quanto toco no que é)

No breve instante em que me proponho ao relato
descortinam-se as reminiscências,
o coração dispara, flecha, em Tua direção.
E eu me prostro no chão.

É a hora do conflito. O eu menina quer agradar-Te
com meus potinhos de acertos,
O eu adulto se acanha frente à montanha dos erros.

Não sei o que dizer-Te... Talvez nem precisasse,
Sabes tudo de mim, sabes até o que eu nem imagino.

Penso que, se dissesses, eu me aniquilaria,
eu me dissolveria à medida em que fosses abrindo
cada uma das 49 portas do mim mesma.

No entanto, Tu te sentas no trono do meu peito e esperas

docemente por minhas revelações.

- O que hei de confidenciar-Te?

Não posso dormir sem ao menos dizer

o que Te digo a toda hora, e que, agora, é muito importante

para mim confessar: - Eu confio em Teu amor.




carmen




domingo, 26 de abril de 2009

detalhe da constelação de gêmeos...





Ah, como é gostosa a água na superfície do lago!
Flores, pedras, cisnes, lírios, sapos e rãs,
fortuitos beijaflores.
No cenário, cachoeiras, ponte, horizonte,
no ar, o som das águas e dos passarinhos.
Ao redor, floresta, neblina, garoafina,
pirilampos, grilos e criris,
lobos uivando na noite.
No alto, céu, sol, nuvens, estrelas e lua,
no rabo da Via Láctea
Sirius, Plêiades, Antares, Cruzeiro do Sul...
Milhões de astros na noite de lua nova
maravilhando o espírito
e despertando indagações.
Breve virá o amanhecer,
as fadas bailarinas dançarão nas pontas dos pés
sobre as gotas de orvalho,
abraçadas aos raios de sol.
Virá aquela mansitude toda da manhã
à superfície do lago,
virão instantes infinitos de paz, comunhão...)


E então, ... a persona entrará em ação, toda à roda, escorpião.



carmen

sábado, 25 de abril de 2009

ao poeta JHS


Re morrer


Quantas vezes ainda hei de morrer?
Tantas vezes fui velada...
Quanto tormento e lamento!
Quantas dores!
Tantas flores...
Tantos abraços e beijos e,
Ao redor do meu esquife,
Quantas velas perfumadas!

Antecipo um vislumbre do fim,
Da morte derradeira
Mudando a órbita do meu olhar
E retirando o uni verso
de dentro de mim.

Mas, por enquanto, sou Fênix!
Resisto...




carmen

foto by Pedro da costa Pereira site olharesaeiou


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Nada...


.



Beijo o poema alheio
e toco o meu ser interno.
Há tantas borboletas nas entrelinhas...
Lá vem primavera correndo pela estrada dos versos,
desejosa de esparramar-se em cores e pétalas
nos jardim do outono.

A madrugada sussurra no ouvido das fadas,
as pedras despertam em aromas sutis...

E o que há?
Há nada.

Montanhas de nada
preenchem o imenso vazio

entre o poema
e as mãos do poeta.


A poesia flutua
na maciez do grande vácuo

entre as palavras e os sentidos,
os beijaflores não viram o por do sol,
nem as gaivotas,

nem o mar tampouco,
a rainha adormeceu
no coração da colméia,

mas as abelhas são incansáveis
em seu laborioso

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz..

Do alto,
na ponta de cá da nossa gangorra de nuvem,

observamos
o pequeno Eros e sua irmãzinha Anteros
brincam felizes

entre as perfumadas macieiras do Éden...

Do lado de lá,
pena fina na ponta da língua,

o poeta na alma sorri.
Porque tudo é incrível.


carmen
bjjs

domingo, 19 de abril de 2009

poesia

imagem by Marina Cano site olharesaeiou.


Poesia




Lá vem ela,

colocando palavras na minha boca,

riscando meu corpo

com a pena ardente da sua língua,

já chega pondo lenha na fogueira,

acendendo estopins certeiros

remexendo nos canteiros

de lírios...





.carmen...

Divindade...


O abraço, tela de Klint

.Divindade é a tua mão, 
são teus dedos desenhando flores em minha pele.

É o teu hálito 

semeando primaveras no Jardim do Éden do meu peito.

Divinos eram os deuses 

antes que Eros te criasse e tu me oferecesses a maçã do amor
que ficou grudada no céu da minha boca junto com teu beijo.

Divina é a cor rubi 

na colcha de infinito em que nos deitamos, paralelos, amorosos, puros.

Divino é ultrapassar as leis naturais
e ser envolvida pelo éter que se desprende do ar que respiras.

Divino é eu te ser 

sem que precises fazer nada além de fechar os olhos e me inspirar.

Divino é morrer crucificada em teu corpo,
suspirar em teus braços.



*Carmen Regina

clarice...

.



"Eu não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível
de fazer sentido. Eu quero é uma verdade inventada". (Clarice Lispector)




coisa linda....

Receitinha do dia:


.


Bombocado de mel

Ingredientes:
Um poeta
Um anjo
Uma harpa
Um canteiro
Uma abelhinha
Êxtase de flores
Delírio floral

Coloca o anjinho tocando harpa no canteiro do jardim,
põe flores, põe abelhinhas, põe aromas;
- e a harpa do anjinho só tocando...
Por último põe o poeta
e o êxtase .
Sirva com suco floral de lírios.



carmen
p minha anjita

confio em teu amor...


Deito minhas pupilas no ninho
do teu olhar
tão terno
e cubro-as com o lençol de jade
da tua doçura

Trapezista que me resgata
Em plena queda.

Solto as amarras
E me deixo ser salva
Por tuas mãos de poeta.

Refugio-me em ti,
Poesia

Eu confio em teu amor.



carmen

Vini cultor das estrelas










Ao bardo irmão



Ó, nobre bardo!
Quão suave é o néctar que bebo em vossa taça!
Quão fluida e sutil sabe-me a essência de vossas uvas!

Embriaga-me o sabor de vossos versos,
Líquido precioso transportando o calor
Dos vossos pés
Ao mais recôndito de meus átomos,
À intimidade das minhas menores partículas
E até mesmo no espaço entre elas.

Sinto a delicadeza do jade que reveste
A vossa ânfora sublime
Na poesia que dança na ponta de vossa língua


carmen

Terra livre

imagem: shane willis site photo.net

.Negrito
Anemia
.


Salto dos sonhos para a real surpresa do dia que amanhece.
Quem me daria asas para voar no azul sem fim de um dia assim?


Queria ser um pássaro de brancas penas, elevar-me acima
das correntezas humanas, romper elos, ir além, mais adiante.
Do alto contemplar a grande teia em movimento.


Quisera recolher o éter que se desprende das auroras
num dia assim, de um dourado assim,
riscar o espaço com o giz do poeta,
e traçar uma nova curvatura para o sol,


Salto para a dureza do asfalto.
Penso nos seringais que gemem sobre ele disfarçados de pneus.

Penso na Terra.
E vejo o seu imenso úbere jorrando o leite negro que alimenta
a grande teia esvaindo-se, anêmica...
Quer queiramos quer não queiramos.




carmen

como o sol...


Como o sol...

.


No horizonte
Nem sinal da alvorada
Mas a passarada
já ensaia a cantoria
nos galhos da flamboyant.
Que bela manhã!



Noite toda esperei por ela,
Passei horas na janela,
Corujas e grilos na noite,
Açoites da solidão,
Paixão virando poesia
Em taças de água fria.



Que dirá meu coração...
Agora o sol já raiou,
o peito já sossegou,
ficou nenhuma lembrança,
estou me sentindo só,
que dó...



A tua voz tão mansa...
Sinto sono,
quero dormir
até o dia em que haverás
de vir

Com o sol da manhã.



carmen

*liberta





Liberdade



Encosto meu olhar na rubra rosa em teu peito.

Dulcearomas exalam meus poros...

- Que é esse encanto que nos faz assim unos?

Tão simples colher-te, tão fácil levar-te...

Quero-te. É minha esta rosa encarnada!

- Será? – pergunto-me...

- Liberta e serás livre, respondo-me.





Carmen Regina*

noite...


noite

.



A noite colheu o meu corpo com suas mãos quentes e macias
como quem colhe um cacho de uva pronto para ser degustado.

Ela me fez dormir em seus braços e me saboreou.
Mastigou-me inteira, e eu nem senti.

Eu passaria a noite a sós com a tua lembrança mas,
meus olhos estavam ausentes de mim.
A noite me levou e eu nem vi.

Ao acordar, já não havia luar, as estrelas haviam se escondido.
Só ficou a tua presença nenhuma
macia e perfumada, enrolada nos lençóis de cetim
da alcova do meu peito.



carmen

Vórtice mental


.


Piso nas areias movediças
do pensamento,
a princípio macias e perfumadas mas,
à medida em que juntando se vão,
tornam-se intermitentes,

Um zás! e o vórtice se faz,
configura-se o buraco negro
levando tudo de roldão.
Abrem-se as comportas da mente
e, ei-los, obscurecendo os caminhos,
" náufrago de mim mesmo"
já não vislumbro a estrada.

É um Deus nos acuda!
Porteira por onde passou um boi
Passa agora uma boiada.
Oremos!

carmen

quarta-feira, 15 de abril de 2009

o sonho



Sonho...



Foi um sonho.
(ou teria sido um vislumbre do eterno?)
O que num primeiro momento
pareceu medonho,
na tela onírica mostra o renascimento,
primavera em pleno inverno.

Dureza carregar um morto nas costas.
(Zaratustra que o diga)
O tempo todo ali, invisível,
Impedindo que prossigas,
Tu, inerte, mercê do medo intangível.

Vida! Eterno sonhar!
Sonha-se dormindo e estado de alerta,
aqui, ali, além, em outros mundos
que se vai penetrando, pois se pode entrar,
a porta está sempre aberta.

Repousai, mártir do meu ser,
Nossa alma agradece de coração
por ter se lembrado de mim
por ter se despedido,
por tua compaixão.

Agora ide! descansai...
Farei o melhor que puder
e será como Deus quiser
traduzir em arte a tua herança.
Acreditai, eu tenho uma vida inteira
Vede: eu ainda sou criança.




Carmen

sábado, 11 de abril de 2009

confidências...


Em ti homenageio todos os poetas amigos da alma
vivos e mortos.

"... palavras simples podem tocar grandes corações."
(Renata Dias)

. A conexão das almas me emociona.



Procuro a palavra mágica,
A palavra rara, pérola do poeta.

Observo...

No tela do poema vão surgindo metáforas
(é o poeta pintando, verso a verso).
Num zás! em humanos torna mitos imortais.
E a percepção do cotidiano morno e tributável
Ele dissolve na onipotência dos elementais.

-À simplicidade nua e crua das palavras, ide!
(e dê-lhe pincéis, tintas, imaginação!)
No alforje do poeta, leveza e lirismo,
No coração, o trono macio da inspiração.

Ah, a inspiração!...
(ela não é minha, não é tua, nem de ninguém)
Inspiração vem do além, do poeta, o feito
De cultivar as sementes dentro do peito.


carmen

domingo, 5 de abril de 2009

a palavra mágica


Procuro a palavra mágica,
Aquela que beira as margens do eterno,
Que gosta de água.
E é pura água
Respira entre seixos e ninféias
Junto aos papiros, algas e musgos
Ela é só ternura
Brinca com as tilápias
Salta fora d`água
se esfrega na areia
espanta insetinhos
beija as flores, o vento...
Ah, aquela palavra ri muito
Mas às vezes chora.
Então fecha os olhos e reza.
Até que ela vem...
Até que ela chegue
Silenciosa, amorosa... alma.
E o milagre da multiplicação se renova.
Primeiro torna as penas em poemas
E depois do longo abraço
Torna o poema em poesia.

Ah... era tudo que ela queria...



carmen

sábado, 4 de abril de 2009

fazemos amor...



Amor

.
Quando meu ser humano fica vulnerável,
quando do teu Amor sinto fome
grito em silêncio o teu nome.


E tu vens Acodes às minhas súplicas.
Fecho os olhos à humanidade,
alongo os braços ao prana
E em todas as formas te vejo,
te abraço, te beijo.


És o ar que a natureza respira!
Cálice de clorofila
trans mutas em mel
minha vã melancolia.


Sinto-me no céu! Sou poeta!
Choro de alegria.
Mas só me sinto completa
quando me olhas mansamente nos olhos
e me amas em tua cama de Poesia.


carmen

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pedido

Estão aqui, pálidas e nuas
São tuas
Frias como mármore, lívidas como a morte
Mãos, como querias,
Vazias...
Ajoelho-me diante do horizonte distante
Rezo...
Pra que as culpas não firam as asas
Para que não doam as penitências
Nem te rondem as recorrências.
Ofereço-te meu oásis imaginário
Molha teus pés...
Perfuma tua renúncia com o óleo do meu pesar
E ...dorme, poeta, repousa...
Quando acordar, me ensina,
Como ensinas aos meninos e meninas
A arte de conjugar
O verbo que dominas.


carmen