Impermanência
Poeta, olha pra mim!
Estás vendo um poeta aqui? Nem eu!
Passei a madrugada a procurá-lo na terra do sem fim,
Nem sinal!
Por onde andaria esse filho de Netuno?
Vede: minhas mãos estão cheias de poesia mas,
Sem o olhar do poeta a paixão esfria,
Fica incompleta a poesia.
Eu vos convoco, dos quatro cantos do uni versus,
Vinde, ó amigos da alma!
Juntos, o haveremos de encontrar,
Olhai, olhai, olhai...
Que nada fique sem vistoria
Pétala de flor, relva, sombra ou raio de sol,
Das pedras do chão, cuidai,
Com elas, são horas a filosofar...
Levantai vossos olhos aos telhados e arranha-céus,
Fazei pente fino nos outeiros,
Grão a grão buscai entre as areias à beira mar,
Nos ninhos de passarinhos, em toda brisa que passar.
Olhai os lírios dos campos, as crianças, os animais,
Nas asas dos beija flores, índios, mendigos,
Ancião, catadores de papel e, se a noite chegar,
Olhai para o céu, sondai as estrelas, detei-vos ao luar,
E então, fechai os vossos olhos ... Silenciai.
Ah!... Que cesse todo movimento!
Vai falar a voz do coração nesse momento.
E o que ela nos diz? – “Ouça-me...”
Carmen