domingo, 22 de março de 2009

Darfur...

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Minha lágrima é nada,
minha dor, performática,
o grito abafado na garganta é zero,
á esquerda, redondo e mal acabado
diante da agonia silenciosa da fome,
do calor, do frio, da sede,
das saídas, nenhuma.


Que é meu grito

diante do peito seco de milhares de mães,
do seu desespero diante da impossibilidade
de nutrir os filhos remanescentes do holocausto?
Que peito daria leite depois de terem arrancado dele
filho quase morto de fome

para matá-lo com requintes de crueldade?


Tem horas que nem sei o que vale a pena nessa vida,
se é mesmo o bastante a alma não ser pequena,
tem horas em que me sinto inútil,
me vejo dormindo de boca aberta,
horas que chorar nem melhora nem piora,


Apenas afunda-me mais rápido na cova rasa
da vergonha de ser um membro deste corpo
que está fazendo isso,
criando essa obscenidade, essa maldade,
dando as mãos à brutalidade,
e, pior que tudo, a indiferença...


Somos todos um...
Um só corpo, um só ser,
somos todos irmãos,
nosso lar é este planeta

que era para ser lindo,
e não há ninguém em casa.


Que me adianta ser poeta...
Que as águas continuem a descer
e a afogar meu desespero,
e que eu renasça amanhã, com fé,
porque neste instante eterno não sei o que fazer,
nem o que dizer


além de sofrer o silêncio e a distância,
a dor dos meus irmãos,

tão negros, tão brilhantes,
ônix divino entre nós,
e nós, nem aí...
Não sei o que fazer meu deus...



carmen

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